Isto é, o mundo é uma perpetuação natural ou uma marca do fantástico?
Em Julho de 1966, Ronald Christ realizou com Jorge Luis Borges uma extraordinária entrevista - digna da personalidade do escritor argentino -, que realça as suas imagens da vida perceptíveis neste excerto onde sobrevém a questão inicial:
Como é que define o fantástico, então?
Pergunto-me se podemos defini-lo. Julgo que é sobretudo uma intenção, num escritor. Lembro-me de uma observação muito profunda de Joseph Conrad - é um dos meus escritores preferidos - acho que na epígrafe de algo como The Dark Line, mas não é isso...
The Shadow Line [A Linha de Sombra]?
The Shadow Line. Nessa epígrafe ele dizia que algumas pessoas tinham pensado que a história era uma história fantástica por causa do fantasma do capitão que fazia parar o navio. Ele escreveu - e isto impressionou-me porque eu próprio escrevo história fantásticas - que escrever deliberadamente uma história fantástica não era sentir que o universo é, todo ele, fantástico e misterioso; nem que uma pessoa sentar-se a escrever algo deliberadamente fantástico significa falta de sensibilidade. Conrad pensava que sempre que se escreve sobre o mundo, mesmo que de um modo realista, se escreve uma história fantástica, porque o mundo em si mesmo é fantástico e insondável e misterioso.
Partilha desta convicção?
Sim. Acho que ele tinha razão. Falei com Bioy Casares que também escreve história fantásticas - histórias muito, muito boas - e ele disse: acho que Conrad tem razão; na verdade ninguém sabe se o mundo é realista ou fantástico, ou seja, se o mundo é um processo natural ou se é uma espécie de sonho, um sonho que nós podemos ou não partilhar com os outros.
Jorge Luis Borges, Entrevistas da Paris Review, Outubro de 2009
Em Julho de 1966, Ronald Christ realizou com Jorge Luis Borges uma extraordinária entrevista - digna da personalidade do escritor argentino -, que realça as suas imagens da vida perceptíveis neste excerto onde sobrevém a questão inicial:
Como é que define o fantástico, então?
Pergunto-me se podemos defini-lo. Julgo que é sobretudo uma intenção, num escritor. Lembro-me de uma observação muito profunda de Joseph Conrad - é um dos meus escritores preferidos - acho que na epígrafe de algo como The Dark Line, mas não é isso...
The Shadow Line [A Linha de Sombra]?
The Shadow Line. Nessa epígrafe ele dizia que algumas pessoas tinham pensado que a história era uma história fantástica por causa do fantasma do capitão que fazia parar o navio. Ele escreveu - e isto impressionou-me porque eu próprio escrevo história fantásticas - que escrever deliberadamente uma história fantástica não era sentir que o universo é, todo ele, fantástico e misterioso; nem que uma pessoa sentar-se a escrever algo deliberadamente fantástico significa falta de sensibilidade. Conrad pensava que sempre que se escreve sobre o mundo, mesmo que de um modo realista, se escreve uma história fantástica, porque o mundo em si mesmo é fantástico e insondável e misterioso.
Partilha desta convicção?
Sim. Acho que ele tinha razão. Falei com Bioy Casares que também escreve história fantásticas - histórias muito, muito boas - e ele disse: acho que Conrad tem razão; na verdade ninguém sabe se o mundo é realista ou fantástico, ou seja, se o mundo é um processo natural ou se é uma espécie de sonho, um sonho que nós podemos ou não partilhar com os outros.
Jorge Luis Borges, Entrevistas da Paris Review, Outubro de 2009
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